domingo, 21 de junho de 2009

A Festa da Menina Morta ou o mundo é real ilusão...

Um homem grisalho, ao sair do cinema, responde ao nosso olhar curioso: - Este é o filme mais desagradável que já vi, em 30 anos.
Entramos cheias de expectativas e esperamos para ver o que seria tão desagradável. Durante o filme as cenas se acumulam, criam relações indiretas. Mais do que os diálogos, imagens e sons falam do deslocamento e da imobilidade. Falta o vôo para os que têm asas e a água escorre pelas paredes, pela torneira que não para de pingar. Ela embala a conquista, o sexo, o prazer e a dor. Os sentimentos contraditórios e intensos são como a água, neles afundamos em noite de escuridão. A Festa da Menina Morta fala do aprisionamento em relação aos papéis que assumimos porque escolhemos ou porque escolhem por nós. Fala do vôo da mariposa em torno da lâmpada, de fiéis forçando a manutenção da santidade. Saímos do cinema pensando que o desagradável era o quanto o filme falava em nós, o quanto provocava nosso desejo de dar voltas em torno da lâmpada.

Cultura Popular e Mercadoria

A Cultura popular deve ser imutável? Anacrônica, ahistórica? Não compreendo a insistência em mantê-la atrelada às antigas tradições, muitas vezes inventadas em relações de dominação e submissão. Causa incômodo assistir a grupos tão ricos musicalmente, tão fortes e dedicados, aprisionados em velhos clichês e posturas hierarquizantes. Alguns diriam que a força reside na hierarquia, eu, por outro lado, insisto que ela surge, é inventada, no encontro com o outro e no desejo de fazer parte. Mas em que medida esta possibilidade de fazer parte, de conhecer o processo de criação, em que medida a possibilidade de romper com antigos e novos estereótipos é possível dentro da concepção mercadológica de cultura? Até que ponto é possível não se deixar catalogar? O catálogo garante a especificidade da mercadoria e a insere em uma gama possível de alterações. Como nós, artistas, podemos não nos deixar catalogar e ainda assim viver da arte?